Sem preconceitos, mais ou menos



Já aqui falei da importância de perdermos os preconceitos em 2018 (e, já agora, em 2019 e em todos os anos seguintes também). Mas quando digo isto a alguém, dizem-me sempre que não têm preconceitos. Está tudo bem, asseguram-me. Cada um pode ser, parecer e fazer aquilo que quiser, ao contrário do que acontecia antigamente, “no tempo do Salazar”.



Em primeiro lugar, o que vos apraz dizer sobre estes standards tão baixos? Afinal de contas, se tudo está bem, porque é que o nosso ponto de comparação tem que ser um regime ditatorial e autoritário? Em segundo lugar, teremos avançando assim tanto? Será que temos a cabeça bem resolvida e que cada português pode, realmente, ser aquilo que quiser? 



Temo que a resposta seja não. Num mundo em que é okay ser gay mas só “cada um em sua casa”, em que não há problema com as tatuagens “desde que não vejam” e em que alguém tem que tirar os piercings para trabalhar não é um país verdadeiramente livre em que cada pessoa faz o que quer com a sua vida. Ainda temos muitos complexos, muitos preconceitos para desbravar e ideias para desconstruir.



Tudo começa connosco; com a análise e reflexão de cada julgamento que fazemos. Porque o preconceito, esse que está eliminado, gosta de espreitar pelos lugares comuns, pelas expressões populares, pelas desconfianças que chegam sem darmos conta. É o agarrar na carteira quando chega alguém com um determinado aspecto, olhar duas vezes quando entra uma mulher com hijab na nossa carruagem de metro ou achar que alguém atrás de uma caixa de supermercado não tem formação.



Mas são também as micro agressões ou o não querer entender o lado do outro. É o não perceber porque é que um casal gay tem o direito de se revoltar quando alguém que faz bolos para casamentos recusa fazer o seu. Se faz bolos para casamentos, que diferença faz quem é o casal? Porque é que a orientação sexual - e não o carácter, os antecedentes criminais ou alguma coisa objectivamente reprovável - é que o critério? O preconceito é não perceber essa revolta, é achar isso uma turrice. O que diríamos se alguém se recusasse a fazer um bolo a uma pessoa negra?

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